quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A mulher que fez a minha cabeça


















Eu topei com Ana Cristina Cesar em meados da década de 80. Eu era adolescente e tinha uma fome enorme de novas experiências literárias, novas leituras, novas possibilidades de escrita. Ela surgiu assim, na leitura de uma revista semanal que divulgava o lançamento de "Inéditos e Dispersos", livro póstumo organizado por Armando Freitas Filho com quase tudo que tinha nas gavetas da escritora. A compra do livro foi imediata e seguiu-se `a leitura voraz de todos os possíveis outros títulos da autora disponíveis. Ana C. foi o espanto pra mim. O melhor encontro que poderia ter acontecido. E tudo foi diferente depois disso. Ela está rondando aqui, sempre.


Casablanca

Te acalma, minha loucura!

Veste galochas nos teus cílios tontos e habitados!
Este som de serra de afiar facas
não chegará nem perto do teu canteiro de taquicardías...

Estas molas a gemer no quarto ao lado
Roberto Carlos a gemer nas curvas da Bahia
O cheiro inebriante dos cabelos na fila em frente no cinema...

As chaminés espumam pros meus olhos
As hélices do adeus despertam pros meus olhos
Os tamancos e os sinos me acordam depressa na
madrugada feita de binóculos de gávea
e chuveirinhos de bidê que escuto rígida nos lençóis de pano



Deus na Antecâmera

Mereço(merecemos, meretrizes)
Perdão(perdoai-nos, patres conscripti)
Socorro (correi, valei-nos, santos perdidos)

Eu quero me livrar desta poesia infecta
beijar mãos sem elos sem tinturas
consciências soltas pelos ventos
desatando o culto das antecedências
sem medo de dedos de dados de dúvidas
em prontidão sangüinária

(sangue e amor se aconchegando
horas atrás de hora)

Eu quero pensar ao apalpar
eu quero dizer ao conviver
eu quero parir ao repartir

Filho
Pai

E
Fogo
DE-LI-BE-RA-MEN-TE
abertos ao tudo inteiro
maiores que o todo nosso
em nós(com a gente) se dando

HOMEM: ACORDA!


(imagem capturada no Google Images)

Um comentário:

Samantha Abreu disse...

Ai, ela tbém fez minha cabeça há alguns anos.
Já tentei decorar coisas, mas não consigo. Parece que é pra me parecer novo a cada vez que leio.

Beijos, querida!