O antifotográfico
guardo as fotografias
em um nicho secreto do cérebro
como um devir
sequestro imagens
com a retina dos olhos
armazeno ali
naquele canto tão íntimo
naquele espaço exíguo
sequências de gestos
sorrisos envergonhados
seus olhares que pousam em mim
guardo as fotografias
- estas abstrações –
na mala de viagem
em meio às roupas íntimas
aos livros de sebos baratos
aos vidros de perfume
num canto esfumaçado pelo tempo
dentro de uma caixa decorada de corações
guardo as fotografias
em arquivos ultra secretos
invioláveis
com senhas para esquecer
com dispositivos para apagar vestígios
espectros do acontecido
vultos invisíveis
o calor
apenas
da mão pousada sobre o ombro
guardo as fotografias
em nuvens de nadas
para obliterar
o vivido
para desfazer os caminhos percorridos
enganar os olhos
suprimir os rostos
apagar a boca
e redesenhá-la através dos sentidos
guardo as fotografias
de olhos vendados
e mudo
em um (des)arquivo
antifotográfico
2 comentários:
Belíssimo! A nossa fotografia de sempre: perda e permanência. Beijos, Karen.
Líndissimo, Karen! bjos
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