segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Um olhar sobre Londrina


Sobre o amor

Histórias se entretecem no cotidiano apressado e transformam a cidade num território de afetividades. Ações e memórias  fixam-se através das vozes  misturadas à paisagem sonora urbana. Vozes veladas, solitárias, coletivas, silenciosas, familiares, ruidosas, de tom grave ou agudo, em altíssimo e bom som, ecoam entre os carros e os transeuntes velozes como narrativas particulares.
Há muitas maneiras de se amar uma cidade.
A jovem empresária que traça o planejamento urbano para o futuro. O trabalho minucioso da costureira, em um barracão de facção, distante do centro, produzindo peças para serem usadas por outras mulheres que, provavelmente, nunca a conhecerão.
A atriz que coordena  os palhaços-doutores, especializados em “besteirologia,” para desenvolverem um revolucionário tratamento médico no qual a alegria é o remédio. A mulher, de sorriso luminoso e olhar atento, que orquestra sonhos e dá sentido à vida de muitos jovens que transitam nas bordas da cidade. A mulher persistente, de sotaque italiano, que mostra que “deficiente” é, na verdade, quem não crê na ampla possibilidade do pulsar da vida.
A fotógrafa que desafia os padrões estéticos da sociedade criando novas representações para o corpo contemporâneo. A fotógrafa que captura o “instante decisivo” para marcar, indelevelmente, na memória, a história de cada um.
As mulheres destemidas e ruidosas que saem em marcha pelas ruas para reivindicar direitos e equidade para as diversas identidades. Novas formas de atuação política. Tempos de feminismos pós-modernos.
As cantoras que embalam as noites da cidade entre o jazz e a mpb, o blues e o rock and roll, o samba e o rap. A mulher que apresentou ao público londrinense a arte de Kazuo Ohno. A mulher que despertou “ouvidos pensantes”. A mulher que aproximou a música dos projetos sociais.
As escritoras que rasgam a pele do leitor com a fina lâmina das palavras. Algumas extraem sentimentos até os ossos, destemperando as emoções. Outras o enlaçam voluptuosamente a sensíveis desafios diante de narrativas nos jornais de domingo.
A mulher que alivia as dores e cuida de corações cansados, apaixonados, apertados, partidos, pulsantes, alegres, oprimidos, tranquilos, magoados. A mulher que desvenda o inconsciente e resgata símbolos ancestrais para que se possa compreender a complexidade e os mistérios do ser. 
A professora apaixonada por filmes de Bette Davis, que permanece alimentando gerações de londrinenses com seus ensinamentos a cada reencontro. E tantas outras mulheres que, no ambiente da casa e do mundo, apontam maneiras diferentes de olhar as questões do cotidiano, por mais simples que sejam.
Estas são as vozes que arquitetam a cidade.


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