quinta-feira, 10 de julho de 2008

Caixa de memória

Recortes

Eu vi muitos dias de tempestade. Ventos que dobravam árvores. Um pouco desta violência dos ventos também fazia dobrarem-se árvores dentro de mim.
Quando cheguei naquela cidade, mala na mão, andando atrás do marido, quase chorei. A casa ficava praticamente onde acabava o que chamavam de cidade. Depois só café mato e árvores que se perdiam de vista na baixada.
As pessoas me olhavam com desconfiança. Uma moça nova, eu tinha apenas 20 anos, perdida naquele lugar com um homem que eu mal conhecia. O tempo era depois da guerra. A maioria das pessoas ainda olhavam com suspeita os alemães e italianos que moravam ali.
Corria `a boca pequena na família que meu cunhado guardava bem escondido um grande quadro de Mussolini. A minha história poderia ser de muitas outras daquela época. Mas eu a confesso aqui neste diário porque é eminentemente minha. Como aquele álbum de couro no qual guardo as fotos presas com cantoneiras bordôs de papel.

Trecho de Caixa de Memória - work in progress (2008)

2 comentários:

Paulo Augusto Sebin disse...

Olá Karen. Como sempre, sou seu fã como professora e jornalista. Parabéns.
www.paulosebin.blogspot.com

Anônimo disse...

tá tá... work in progress...
eu espero.
acho até que vou esperar sentada na biblioteca pública de campo bonito.
quem sabe um dia o livro novo chega lá?
Ansiosamente.