segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Palavras da diretora

Fernanda Coelho e Lili de Almeida em cena no espetaculo Encontros e Desencontros


Na edição do Jornal de Londrina de hoje destaque para a matéria e entrevista com a diretora do grupo Noisette, Fernanda Coelho:


Pés-vermelhos fazem teatro no Velho Mundo

Grupo Noisette, dirigido por Fernanda Coelho (ex-Proteu), reúne profissionais londrinenses em Antuérpia (Bélgica)

25/02/2008 Paulo Briguet ( Jornal de Londrina)

Enviar por email Imprimir Comentar notícia RSS Digg Rec6 Del.ici.ous Yahoo Em seu único livro de contos, Os passos em volta, o poeta português Herberto Helder (1930-) publicou a narrativa Os comboios que vão para a Antuérpia. Era a experiência de um homem errante na Europa, dentro de um quarto alugado, a refletir sobre seus desesperos enquanto ouvia os trens que passavam em direção à cidade belga.

Cinco londrinenses pegaram o trem para a Antuérpia: Maria Fernanda Coelho, Géssica Arjona, Luiz Renato Ferreira, Lili Almeida e Alysson Pedrão. São profissionais de teatro e, desde 2007, formam o grupo Noisette.

“Algumas pessoas por aqui chegam a pensar que Londrina é a única cidade do Brasil”, brinca a diretora e atriz Fernando Coelho, falando sobre a inusitada formação de uma companhia de pés-vermelhos na Bélgica. Mas o auto-exílio nunca fácil: “Estamos morrendo de saudade da nossa ‘pátria’ Londrina”, diz Fernanda, que por muitos anos atuou no grupo Proteu e na produção do Filo, optando pela Europa em 2006.

Recentemente, o grupo apresentou a montagem definitiva do espetáculo Além mar, baseado no livro A estalagem das almas, das também londrinenses Karen Debértolis e Fernanda Magalhães. Entre o final de janeiro e meados deste mês, a escritora Karen e a fotógrafa Fernanda estiveram em Antuérpia, para acompanhar o espetáculo. Além Mar trata de algo comum para quem vive longe da terra natal: o sentimento de ser estrangeiro, de não pertencer ao lugar em que se está. “Nós [do grupo] sofríamos as mesmas angústias e nos fazíamos as mesmas perguntas. Tínhamos uma vontade imensa de nos expressar”, conta Fernanda Coelho, em entrevista por e-mail ao JL.

As narrativas de A estalagem das almas atenderam plenamente à necessidade de expressão do grupo. O Noisette optou por um espetáculo sem palavras faladas. “Ao mesmo tempo, sentimos a necessidade de fazer algo imediato, e montamos um espetáculo de rua chamado Encontros e desencontros”, afirma a diretora.

Fernanda Coelho e os demais integrantes do Noisette ainda não dominam o idioma holandês (flamenco) – predominante em Antuérpia – a ponto de usá-lo no palco. Mas eles buscam outras formas de expressão para conquistar o público belga. O trem de pé-vermelhos continua seu trajeto no Velho Mundo: “Queremos desmistificar a idéia de que o estrangeiro vem aqui para juntar dinheiro e voltar. Temos outras coisas para falar, questionar, mostrar”.

Entrevista

Maria Fernanda Coelho, atriz e diretora

“Não paramos de produzir. Estamos vivos e fortes”

JL: Como surgiu a idéia de Além Mar?

FERNANDA COELHO: A idéia central do projeto era tratar do tema da imigração; do ser “estrangeiro”. Então nos chegou A Estalagem das Almas, da Karen [Debértolis] e da Fernanda [Magalhães]. No livro encontramos os caminhos, os impulsos, uma tradução de nossa idéia de permanente imigração, geográfica e/ou existencial. Eu, particularmente, sou uma admiradora da Karen, vejo nela uma grande escritora. O que ela escreve sempre me estimulou, me fez criar imagens. A junção das fotos da Fernanda Magalhães nos trouxe temperatura, textura...

Como foi o processo de adaptação do livro para o teatro?

O livro nos apoiou amplamente. O Noisette trabalha com imagens. Não utilizamos a palavra falada. Não dominamos o holandês: transformamos a limitação em aliada. O teatro não-verbal sempre nos interessou, a cada um de uma forma, mas instigava a todos. Não temos nenhuma proposta que consideramos inovadora, somos artistas e procuramos refletir nossa condição, longe da nossa terra, por meio do teatro.

Como tem sido a receptividade do público europeu (em especial, o belga)?

Fizemos uma pré-estréia de Além Mar em outubro, no Teatro Arenberg, dentro de um evento chamado Mestizo, e tivemos um público significativo. Ali pudemos detectar a necessidade de algumas mudanças estruturais no espetáculo. Em janeiro fizemos no Teatro Rataplan, com o espetáculo já mais enxuto, costurado. O público recebe bem, acha uma proposta instigante. Ao mesmo tempo há uma certa resistência no fato de termos optado por uma linha de trabalho que deixa, de certa forma, a liberdade para que cada um crie sua própria história a partir de suas experiências. O retorno é positivo, causa inquietação.
Fotos : Fernanda Magalhaes

2 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

A Estalagem é mesmo uma casa aberta, uma obra aberta onde cada um encontra algo seu...eu abro o livro e encontro sempre novas nuances, você me surpreendem! beijos, querida!!